quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Índice

v Texto introdutório
v A história da minha vida
v A história do vidro
v O vidro na Europa Central
v Região Demarcada do vidro da Marinha Grande
v Os equipamentos e as ferramentas para trabalhar o vidro
v A química do vidro
v As lutas dos operários vidreiros
v A evolução tecnológica do vidro e as suas consequências sociais
v A reciclagem, o meio ambiente e a higiene e segurança na industria vidreira
v Demonstração em contexto de trabalho
v Texto em Inglês
v Conclusão
v Poema “ Mãos Vidreiras”

Texto introdutório

Toda a minha vida tem sido feita de desafios, muitos conseguidos, outros nem por isso. No seu conjunto, considero que o saldo é muitíssimo positivo. Foi com esse espírito que entrei em todo este processo.
Aquilo que me propunha alcançar quando me inscrevi no processo de RVCC de 12º ano, teve o seu início em Setembro de 2006, quando iniciei o processo de RVCC para 9º ano. Esse foi, para mim, o ponto fulcral ou, poderei dizer, o mais importante de todo este percurso. Todo o trabalho desenvolvido para esse projecto foi realizado com muita dificuldade, mas o facto de ter conseguido concluí-lo com sucesso, motivou-me e serviu de estímulo para me aventurar neste outro projecto, que considero ainda mais ambicioso que o primeiro. Será sempre importante para mim, jamais irei esquecer todo o acompanhamento feito na altura pelos formadores que estiveram comigo, a sua dedicação, empenhamento e querer. Foi determinante, tanto para o meu trabalho, como para o de todos aqueles que, como eu, tiveram a coragem de se lançar nesta grande aventura.
Perante isto posso dizer que, aquilo a que me propunha agora, era tão somente terminar o processo de RVCC, a nível Secundário. Pode parecer imodéstia da minha parte, mas o meu sentimento será de que a parte mais difícil, foi a anterior.
Voltar a escrever textos em português, voltar à matemática, voltar a ver questões de cidadania, voltar a ler livros, entrar no mundo dos computadores, realmente o que me custou mais foi começar. Também estava a necessitar de provar a mim mesmo que, entrar nos cinquenta anos, não era o fim do mundo, antes pelo contrário, podia ser o princípio de uma nova era.

Com uma vida inteira a trabalhar na indústria vidreira, fazer um trabalho em que o tema fosse o vidro, era, no mínimo, um grande desafio. Mostrar as suas origens, o quanto é linda esta arte de trabalhar, mas também mostrar as dificuldades, as lutas dos operários vidreiros, as consequências sociais das inúmeras crises que, ao longo dos 260 anos em que se faz vidro Marinha Grande, têm atingido esta indústria.
Toda a organização do meu dossier, bem como os trabalhos desenvolvidos, foram feitos com base, primeiro, na minha própria experiência pessoal; em segundo, com muita leitura e pesquisa na Internet. Que maravilhosa é esta ferramenta de trabalho!

Espero que os leitores deste trabalho sintam o mesmo prazer a lê-lo, do que eu senti ao realizá-lo.

A história da minha vida

Escrever a história da minha vida não é tarefa fácil, pois corresponde a meio século de existência, repleta dos mais variados episódios, de vivências, aprendizagens e experiências que me conduziram ao homem que sou hoje!...
Há muitos anos li um livro, do grande poeta Chileno, Pablo Neruda, “Confesso que Vivi”, embora não tenha a pretensão de me comparar a Neruda, vou tentar seguir um pouco o seu raciocínio, Que neste caso será o meu, vou relatar os episódios mais marcantes da minha vida, para que, no final, também possa dizer: “Confesso que tenho vivido”.
Nasci no dia 29 de Novembro de 1955, na freguesia do Couço, concelho de Coruche. Fui baptizado com o nome de Alfredo Joaquim Poeiras. E refiro este facto, porque também ele parece ter querido marcar o meu percurso existencial, devido ao simbolismo desta aldeia.
A Vila do Couço é um símbolo da resistência ao fascismo. Em 10 de Junho de 2000, o Povo do Couço foi agraciado por Sua Excelência o Senhor Presidente da República com a condecoração: Membro Honorário da Ordem da Liberdade.

No início dos anos 60 os meus pais foram viver para o concelho do Bombarral, devido a essa situação fiz a 1ª classe na Escola Primária do Bombarral; o resto da escolaridade obrigatória foi feita na minha aldeia.
Nos anos de infância que vivi no Bombarral, lembro-me de dois episódios marcantes:
O nascimento do meu irmão e uma viagem de mota com o meu pai à prisão de Caxias, para fazer uma visita a dois tios e duas tias, presos políticos.
Como só os meus pais podiam entrar, pois tinha apenas seis anos, fiquei da parte de fora da prisão, sozinho, cerca de duas horas. Lembro-me, como se fosse hoje, que um guarda da GNR, foi ter comigo e me perguntou se eu tinha sede. Depois trouxe-me água numa caneca de barro.
Estas imagens da prisão recordam-me o rigor do regime que separou a minha família e me impediu de acompanhar os meus pais.

O ano de 1963 foi horrível para mim. Os meus pais separaram-se, o meu irmãozito faleceu. Eu fui viver para casa dos meus avós maternos, na aldeia do Couço. A minha mãe foi trabalhar como empregada doméstica.
Conclui o exame da 4ª classe em Julho de 1966, escolaridade obrigatória naquela época e, pelos motivos que anteriormente referi, esperava-me o mundo do trabalho. Vim então para a Marinha Grande, para casa de um tio, na companhia da minha mãe e aí ficámos a viver.
Criança que eu era, fui obrigada a transformar-me em adulto muito rapidamente. Uma semana depois, no dia 14 de Outubro de 1966, às seis horas da manhã, fui trabalhar para a empresa Crisal. Foi o primeiro dia, de toda uma vida que iria ser dedicada a trabalhar o vidro. Primeiro como aprendiz, a fechar o molde e a “levar acima”, depois, ao longo dos anos, percorri todas as categorias profissionais existentes na indústria vidreira, no sector cristaleiro, até chegar a oficial no ano de 1991.
Cedo aprendi a dureza da vida de um operário e senti a injustiça de receber um “magro salário”

O início dos anos 70, foi para mim um período muito importante. O homem que sou hoje começou a ser formado nesses difíceis anos.
Ainda com 14 anos, era na altura já colhedor de marisas, fui um dos impulsionadores de uma greve dos “miúdos” na Crisal. Nessa luta conseguimos um aumento salarial de 7$50 por dia. Na altura ganhava apenas 25$00 por dia, foi o início da minha tomada de consciência para o problema da “exploração” social.
Paralelamente ao mundo do trabalho, fui realizando outros sonhos. Em 1971 comecei a praticar futebol na Sport Lisboa e Marinha, tendo sido atleta desta instituição durante três maravilhosos anos. Pratiquei futebol, futebol de salão e pingue-pongue durante muitos anos.
Adoro o futebol, sou adepto do maior clube do mundo: o Benfica.

Em Outubro de 1973, comecei a envolver-me no combate político, contra a ditadura Fascista, primeiro no Movimento da Juventude Trabalhadora, depois na CDE (Comissão Democrática Eleitoral). Aconteceram então as últimas eleições do regime fascista, considerada por muitos, como sendo uma verdadeira farsa. A Marinha Grande foi uma das muitas localidades em que se tentou boicotar o acto eleitoral, em consequência disso o regime mobilizou as forças repressivas, para tentar travar o protesto.
Foram três dias de confrontos permanentes na rua. Num desses confrontos, fui atingido por uma “ chibatada” da polícia de Intervenção.
A partir desse dia, o regime fascista, ganhou mais um forte opositor.

Entretanto, em Março de 1974, o regime fascista agonizava, a guerra colonial ceifava vidas dos jovens Portugueses e Africanos.
A classe operária vidreira iniciava mais uma luta por salários mais justos e melhores condições de vida. Foram três dias de greve contínua, na frente dessa luta na Crisal esteve a juventude. Eu fui um deles!
Luta esta que antecedeu o 25 de Abril, marcado na minha memória e na de todos os que viveram essa data histórica, com esta música e letra que assinala o fim do regime fascista, em Portugal, pois ela foi a senha final que determinou a saída dos militares para as ruas de Lisboa.

Grândola Vila Morena
Letra e música de José Afonso
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordenaTerra da fraternidadeGrândola, vila morena
Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade

Após a madrugada libertadora de 25 de Abril, por diversas vezes fui abordado por militantes do Partido Comunista Português no sentido de me convencerem a aderir ao Partido. Na altura, não aceitei.
Durante vários meses, recolhi toda a informação possível sobre o PS e o PCP.
Oscilei entre um e outro partido. Posso dizer que foi o Dr. Mário Soares que me afastou do PS, num comício no pavilhão da Embra. Depois de ouvir atentamente o seu discurso, decidi que militante do PS não seria.

Ao longo dos anos fui desenvolvendo uma grande actividade sindical. Quando o sindicato dos vidreiros assumiu contornos nacionais, fui dos primeiros vidreiros a aderir.
Mais tarde, aquando da discussão da lei da Unicidade Sindical, as posições entre o PS e o PCP agudizaram-se; o PS contra e o PCP a favor. Foi então que tomei a decisão de aderir ao Partido Comunista Português, três dias antes do 18 de Janeiro de 1975.
Esta decisão iria mudar toda a minha vida durante mais de uma década, porque tudo aquilo em que me envolvo é de alma e coração e foi isso que aconteceu quando aderi ao Partido.
A minha consciência politica foi aumentando e dois meses depois tornei-me um dos fundadores da União das Juventudes Comunistas, passando a fazer parte da sua Comissão Central, cargo para o qual fui sendo eleito nos vários Congressos até 1982.

Esta militância no PCP, na UJC e mais tarde com a fusão das organizações de jovens do Partido na JCP, deu-me a oportunidade de conhecer vários países do campo socialista.
Visitei a Checoslováquia duas vezes, uma em 1975 e outra em 1976.
Em 1976 tive a oportunidade de visitar dois dos locais mais conhecidos da Checoslováquia:
- Lidice, a vila mineira que foi arrasada pelos Nazis, em 1942, depois de fuzilarem todos os homens, mesmo os mais jovens, de modo a exterminar toda uma classe operária.
- Terezim, campo de concentração Nazi, libertado pelo Exército Vermelho, em 8 de Maio de 1945.
Um mês depois de regressar da Checoslováquia, em Setembro de 1976, assentei praça na Armada Portuguesa. Devido a um problema grave de saúde, na semana anterior ao juramento de bandeira, entrei no hospital da Armada, tendo sido considerado incapaz para o serviço na Armada três meses depois.
Foi o fim da minha experiência militar.
Em Maio de 1978 visitei a Mongólia, numa delegação oficial ao Congresso da Juventude Revolucionária Mongol.
Visitei na mesma viagem, pela primeira vez, a URSS, embora só tenha estado em Moscovo.
Em 1979 voltei a Moscovo desta vez para estudar. Estive 7 meses no Instituto de Ciências Sociais de Moscovo.
O Partido Comunista, nos anos em que fui militante, dedicava bastante atenção à formação política e ideológica dos quadros operários, que era o meu caso. É do conhecimento geral as relações que existiam entre o PCUS e o PCP, havia um protocolo, entre as duas organizações, que levava, todos os anos, vários militantes do PCP a estudar em Moscovo.
No fundamental estudávamos história da URSS, Economia Política, Filosofia, Teoria e Táctica do Movimento Comunista Internacional.
Esta minha estadia na URSS, para além da parte teórica que tive, foi bastante importante para o conhecimento do povo russo, em tudo diferente do povo português: língua, hábitos, cultura, formação escolar, etc. Recordo que, em 1979, a escolaridade obrigatória já era o 10º ano. Os menos aptos não entravam no mundo do trabalho sem frequentar um curso profissional. Os que entravam na faculdade, se reprovassem sem justa causa, ingressavam nos cursos profissionais. Basta este exemplo para se compreender a distância cultural, ideológica e política a que estávamos deste povo, também fiquei a conhecer os princípios em que assentava a Economia Soviética, em tudo diferente da economia Capitalista.
Nessa estadia visitei Leninegrado e Baku.

Tive também o privilégio de assistir ao desfile do 1º de Maio, na Praça Vermelha, assim como à sessão solene do aniversário de Lenine, no Palácio dos Congressos do Kremilin.
Todas estas experiências foram extremamente enriquecedoras. Outra língua, outra cultura, outras “ gentes”, no extremo oposto da Europa, fizeram de mim um jovem ainda mais dinâmico e lutador.

De regresso a Portugal, em 1980, conheci uma moça natural do Alto-Douro, de uma freguesia do concelho de Alijó. Após um curto namoro de um ano, casámos em Maio de 1982.
Do nosso casamento temos uma filha linda, com 24 anos.
Já passaram 25 anos, de muitas alegrias, algumas dificuldades, mas no fundamental de muita felicidade, pois como já referi anteriormente, considero ser característica minha o entregar-me de alma e coração a todas as minhas opções de vida.
De entre as dificuldades recordo o ano de 1986, período muito complicado para mim e para a minha família. Em consequência das graves crises que atingiram a indústria vidreira, com vários meses de salários em atraso, com uma filha pequena, apartamento para pagar, vi-me na situação de rescindir contrato de trabalho com a empresa.
Trabalhava na Ivima desde 1974, altura em que os trabalhadores da Crisal foram transferidos para aquela unidade fabril.
Durante os anos em que trabalhei na Ivima, fui eleito várias vezes delegado sindical, assim como membro da comissão de trabalhadores, assumindo o papel de mediador entre o patronato e os trabalhadores e colocando em 1º plano a defesa dos direitos dos operários, que, como eu, procuravam dar o seu melhor contributo para criar riqueza na empresa.

Quando saí da Ivima, entrei também em rota de colisão com o Partido Comunista Português. Alguma desilusão que me acompanhava desde que voltei da URSS, também algumas quezílias políticas internas, levaram-me a pedir a minha demissão do PCP.
Embora continue a ser um homem identificado com os valores da esquerda, não milito em qualquer partido político.

Estive cerca de dois anos desempregado, até que em Março de 1988, passei a fazer parte dos quadros da empresa Marividros.
Em 1991 estive com licença sem vencimento durante 3 meses, a trabalhar na Alemanha, numa empresa da área do Cristal, tendo regressado à Marividros, até ao seu encerramento, em Junho de 2006.
Quando do encerramento da Marividros, voltei a ter mais um percalço na minha vida, como a minha esposa também trabalhava na empresa, ficamos os dois desempregados.
Embora eu tivesse voltado a trabalhar de imediato, o mesmo não aconteceu à minha esposa, que se encontra desempregada, desde essa altura. Em consequência desta situação, a minha esposa, que toda a sua vida tem sido de uma dinâmica extraordinária, entrou num processo de depressão nervosa, que não sei onde a conduzirá. Espero que com a minha ajuda, bem como dos familiares e amigos, ela consiga ultrapassar esta situação.
Infelizmente ela não é um caso único, pois a saúde física e mental dependem de variados factores, entre eles o direito ao trabalho e à estabilidade emocional. Segundo um estudo que vi há relativamente pouco tempo, esta é uma situação vivida por cerca de 2,5 milhões de Portugueses, um quarto da população Portuguesa, o que a avaliar pelos números crescentes e preocupantes do desemprego no nosso país, dentro em breve em vez de um problema passamos a ter dois: desemprego e saúde/ equilíbrio emocional dos cidadãos.
Na realidade a vida é uma luta constante pela sobrevivência e é nessa perspectiva que vamos vivendo o dia a dia, estando eu actualmente a trabalhar na empresa Crisvidro.

A partir da década de 90 a minha vida profissional tem tido vários motivos de grande interesse.
Em paralelo com a actividade industrial, comecei a ter uma actividade na área do artesanato em vidro.
Esta última tem-me levado a vários pontos do País e de Espanha, para realizar demonstrações ao vivo. Possuo um pequeno estúdio móvel que me permite apresentar as referidas demonstrações.
Esta actividade secundária, para além do prazer que me dá, possibilita-me ganhar mais uns “trocos”, sempre úteis, para quem não tem um ordenado elevado.
Actualmente o meu ordenado situa-se em 720€ líquidos, parece mentira, para quem está no topo da profissão e caminha para 42 anos como profissional, mas é a verdade nua e crua.
Como também comercializo as peças que executo, sou eu próprio que faço os orçamentos, em seguida apresento um orçamento pedido pela equipa do RVCC

Na sequência desta minha actividade, frequentei o Curso Pedagógico Inicial de Formação de Formadores, tendo começado a colaborar regularmente com o Crisform, tanto como formador, como na execução de peças em vidro.
Tenho 52 anos, mas já posso, confessar: “eu também tenho vivido”.
Em 2006 obtive certificação ao nível do 9º ano de escolaridade e desde logo assumi que iria continuar este processo de validação das minhas competências pessoais. Ao avançar para este trabalho, com vista a obter certificação de nível secundário – 12º, só podia seguir um tema:
O VIDRO.

A História do Vidro

Tentar fazer um trabalho sobre a história do vidro não será uma tarefa fácil. Pesquisar toda a informação e passá-la para um documento escrito, será complicado; porém, como sou uma pessoa de grandes desafios, aqui estou eu pronto para o trabalho!...
A minha grande preocupação é não conseguir desenvolver o tema com o devido valor que o vidro tem, tanto na cultura dos povos como na minha própria vida. Numa tentativa de fazer o melhor possível, decidi pesquisar e sintetizar o que de mais interessante encontrei, em vários sites da Internet, de modo a complementar a informação que já possuía.

As Origens do vidro
Para escrever sobre a história do vidro é preciso ir às suas origens e aqui surge logo a primeira grande questão.

Como foi descoberto e por quem?
Não há um consenso acerca das origens do vidro, embora duas ideias mais gerais apontem, para estas duas versões:
Alguns historiadores atribuem a descoberta do vidro a mercadores Fenícios, há mais de cinco mil anos. Esta teria ocorrido acidentalmente, quando atravessavam o deserto e utilizaram placas de nitrato de sódio, debaixo das panelas enquanto cozinhavam. No chão começou a aparecer um material que não conheciam, a que chamaram vidro.
Outra versão da história atribui a navegadores, também Fenícios, que ao acenderem uma fogueira na praia, onde havia duas das matérias-primas básicas da composição do vidro, (a areia e o calcário das conchas), observaram que com a acção do calor, se formou no chão debaixo da fogueira, uma massa incandescente a que chamaram vidro.
Há também historiadores que defendem que o vidro é uma invenção ainda mais antiga. Sustentam esta ideia com achados arqueológicos.
Embora não havendo consenso histórico sobre as origens do vidro, nem em relação ao século em que isso aconteceu, sabe-se que houve vários povos que produziram peças em vidro, 3000 anos antes de Jesus Cristo, nomeadamente:
Assírios, Fenícios, Babilónios, Gregos e Romanos.
O povo do Egipto foi dos que mais desenvolveu o fabrico de peças de vidro, nomeadamente peças de uso pessoal. Pois, já naquela época, faziam bijutaria em vidro. Foram encontradas várias peças de vidro no túmulo do Imperador Tutankhamon.
Para quem, como eu, trabalha diariamente com o vidro e conhece o esforço físico a que estamos sujeitos, incluindo as altas temperaturas, consegue ter uma pequena ideia do que era trabalhar o vidro há 3000 anos atrás.
Naquela época, a produção de peças de vidro exigia, certamente, um esforço terrível aos operários, na maioria escravos. A dificuldade em atingir as elevadas temperaturas que são necessárias, tanto para a fusão das matérias-primas básicas da composição do vidro, como para a fabricação das peças, decerto dificultava ainda mais o trabalho.
O Egipto foi dos primeiros países a introduzir a técnica do fole, adaptada aos fornos, para assim conseguir maiores temperaturas. Tornando a massa vitrífica (vidro) mais maleável, logo mais fácil de trabalhar.
O processo de fabricação de peças de vidro teve um grande impulso com a descoberta da Cana de Sopro. Segundo os historiadores esta descoberta aconteceu no século I antes de Jesus Cristo. Relativamente a esta descoberta, existe unanimidade: foram os Romanos, nos territórios que dominavam, até ao Médio Oriente, os primeiros a utilizar a “cana de sopro”. Tal situação passou a possibilitar a produção de peças de vidro em grandes séries, através do enchimento de moldes. O vidro até ai apenas era modelado.

O vidro na Europa Central

Os historiadores que, ao longo dos séculos, têm investigado o percurso do vidro, atribuem às cruzadas um papel muito importante, na divulgação, das técnicas do fabrico de objectos em vidro na Europa, sendo os cruzados os responsáveis pela chegada do vidro, nomeadamente a Veneza, nos séculos X e XI.
Durante a Idade Média a produção de artigos em vidro impôs-se um pouco por toda a Europa, o que originou, em alguns países, a criação de regiões que são conhecidas mundialmente pelos seus vidros, nomeadamente:
- Itália, Veneza e os vidros de Murano.
- Rep. Checa, Cristais da Boémia.
- Portugal, Marinha Grande.
Na investigação realizada, descobri uma informação que me pareceu interessante e que apresento a seguir:
No século XIII e devido aos incêndios que costumava haver em Veneza, por um lado, e para evitar que os seus mestres vidreiros fossem contratados para trabalharem noutros países, por outro, todos os fornos de vidro que existiam em Veneza, foram transferidos para a ilha de Murano.
Os artesãos/vidreiros, que iam trabalhar para a ilha de Murano, ficavam confinados a ela para o resto das suas vidas. Esta medida foi tomada para assegurar que os segredos da fabricação do vidro não fossem divulgados noutros países, chegando a haver vidreiros condenados à morte como traidores, assim como as suas famílias.
O vidro de Murano ficou famoso pela sua elevada transparência e pelas suas belas cores. Foi em Murano que o vidro artesanal teve um grande desenvolvimento até aos dias de hoje, mantendo a sua produção dependente do trabalho manual.
Um dos tipos de vidros mais famosos de Murano, são os Millefioris, que no essencial são várias camadas de vidros de várias cores sobrepostas.
A Boémia, a França, a Inglaterra e mais tarde Portugal, começaram a copiar aos poucos as técnicas utilizadas em Murano.
No século XVI, a Boémia começou a ser um dos maiores produtores de vidro na Europa, O seu vidro, uma mistura de, potássio e pedra calcária, tinha uma grande transparência, o que permitiu que se começasse a gravar e a lapidar o mesmo.

O vidro Doublé é um vidro clássico também da Boémia. As peças Doublé são compostas por duas camadas de vidro, a interior transparente, a exterior colorida. Ao serem lapidadas sobressai a decoração pretendida, sob um fundo transparente.

Quase todas as empresas Checas se situam na região de Jablonec.
Por volta de 1670 foi criado, em Inglaterra, o Cristal de chumbo. Foi seu criador George Ravenscroft. Com este novo tipo de vidro conseguiu-se uma grande transparência e brilho, o que tornou mais interessantes e valiosas, tanto a lapidação, como a gravação de peças de cristal.
A partir do século XVIII, o vidro começou a seguir dois percursos diferentes.
O artístico/artesanal, em que a componente manual é fundamental.
O utilitário, produzido em larga escala, com o apoio de tecnologia, nomeadamente o prensado.
No século XIX, o Norte-americano, Deming Jarves, começou a fabricar objectos em vidro prensado, com moldes em relevo.

Região Demarcada do vidro da Marinha Grande

Para realizar o trabalho sobre a região demarcada do vidro da Marinha Grande, parti do princípio de que a região demarcada do vidro está profundamente entranhada na história da Real Fábrica de Vidros, da Nacional Fábrica de Vidros ou Fábrica Escola Irmãos Stephens. Ao longo da sua história estes foram os seus três nomes.
A Marinha Grande é uma cidade, que foi primeiro de lenhadores, depois de vidreiros. Ao contrário de outras cidades e vilas de Portugal, que nasceram e cresceram à volta de uma igreja ou castelo, a Marinha Grande cresceu em redor de uma fábrica de vidros.
Ao longo da pesquisa que efectuei para este trabalho, encontrei vários relatos, afirmando que o fabrico de vidro, em Portugal, começou por volta do século XV.
A passagem de uma produção artesanal bastante limitada, para a produção mais industrial, foi muito lenta.
Embora conheça relatos que fazem referências à existência de pequenos fornos para a fabricação de vidro, entre os séculos XV e XVIII; irei, no entanto, destacar as duas regiões do País fundamentais para o desenvolvimento de indústria vidreira em Portugal: Coina e Marinha Grande.
Para se conhecer quais os motivos que levaram à implementação da indústria vidreira nestas duas zonas de Portugal, é importante conhecer quais as condições favoráveis que existiam nas mesmas. No fundamental eram duas:
- A primeira, era a madeira, para servir de combustível. As duas zonas tinham bastante. Em Coina a mata da Machada e na Marinha Grande o Pinhal do Rei.
- A segunda, eram as areias de origem caulina em Coina e na Marinha Grande as de origem siliciosa e a argila. No pinhal do Rei também havia muita Erva-Maçaroca, que era utilizada como carbonato de sódio.
Na freguesia de Coina, situada no concelho do Barreiro, entre 1719 e 1747, existiu a Real Fábrica de Vidros de Coina. Nos vinte e oito anos em que laborou, produziu essencialmente: vidro cristalino, vidro para janelas, (na altura eram muito usadas as janelas em guilhotina) e vidro verde para garrafas. O seu proprietário foi o cidadão Irlandês, John Beare.
Devido à ameaça de esgotamento do combustível (madeira) para alimentar os fornos, John Beare pensou e conseguiu deslocalizar a Real Fábrica de Coina, para a Marinha Grande assim como a tecnologia de que dispunha na altura.

No ano de 1748 iniciou-se na Marinha Grande a produção de vidro, nos primeiros anos, foi a continuação da tradição trazida de Coina.
Em 1769, a Real Fábrica de Vidros passou a ser propriedade do cidadão Inglês Guilherme Stephens que, com o apoio do Marquês de Pombal, de quem era amigo, conseguiu obter a permissão do rei D. José I para gastar toda a lenha do pinhal que fosse necessária para a laboração da fábrica, durante quinze anos; privilégio, que se tornou permanente, segundo o alvará Régio de 7-VII-1769.
Além disso, o Tesouro emprestou a Stephens, sem juros, a quantia de 32 mil reis (ceca de 150€ na moeda actual) para investimentos na empresa.
Sob a administração de Guilherme Stephens, a fábrica teve um grande desenvolvimento, vieram mestres vidreiros Ingleses e Italianos, para ensinar os vidreiros Portugueses.
Guilherme Stephens dedicou uma grande atenção à formação dos seus operários, assim como das suas famílias, tanto no ensino como na cultura. Conta-se que, o cultivo de alfaces, na região da Marinha Grande, começou também nessa época.
O primeiro forno de vidro, sob a administração de Guilherme Stephens, foi aceso em Outubro de 1769 e utilizado, em particular para produzir vidraça,
fabricada pelo processo de manga de vidro. Em 1770, foi aceso um forno para a produção de cristal.
Com a morte de Guilherme Stephens em 1802, a posse da Real Fábrica de Vidros da Marinha Grande, passou para o seu irmão João Diogo, que a manteve até 1826, altura em que a doou em testamento ao Estado Português, assim como todos os seus bens.
Com a tomada da posse da empresa pelo Estado Português, foram vários os gestores, assim como arrendatários, que passaram pela mesma. Irei salientar apenas alguns deles.
- 1827, a gestão da empresa foi entregue a uma sociedade em que o Barão de Quintela e o Conde de Farrobo, foram as figuras mais importantes.
- 1848, foi nomeado um negociante, Manuel Joaquim Afonso, pessoa muito bem relacionada dentro do poder central. A ele se deve a introdução da primeira máquina a vapor na empresa.
Apenas para se ter uma pequena ideia da importância que a Real Fábrica de Vidros tinha na Marinha Grande, apresento a evolução a nível de empregados ao longo dos anos.

Ano de referencia
Empregados
1840
276
1847
286
1852
304
1863
320
Em 1864, o Estado Português, arrendou ao Conde de Azarujinha a Real Fábrica de Vidros, para assim poder continuar em laboração.
No período entre 1864 e 1894, é instalada na empresa bastante tecnologia, nomeadamente, motores hidráulicos na máquina a vapor assim como vários mecanismos auxiliares.
Nessa altura, o número de operários, quase duplicou, em relação ao censo de 1863, (320). No entanto, começou a praticar-se a política de redução de salários aos operários.
A população da Marinha Grande sofre então um grande crescimento, são introduzidas várias melhorias, sobretudo nas vias de comunicação.
Após uma visita dos Reis de Portugal, em Agosto de 1892, a Marinha Grande passa a ser vila.
Nos finais do século XIX e princípio do século XX, com a grande procura de vidro em Portugal, foram criadas várias empresas, das quais vou destacar as mais importantes.
Tabela das empresas criadas nos finais do século XIX e princípios do século XX:

1889- Santos Barosa
1894-Nova Fábrica de Vidros Ivima
1894-A Central (actual Barbosa e almeida)
1899-Ricardo Gallo
1906-Guilherme Pereira Roldão
1906-Manuel Pereira Roldão
1913-Dâmaso (Vieira de Leiria)
1917-Marquês de Pombal (Crisal)
1941-Covina
1944-Atlantis , Cristais de Alcobaça
Em 1920, estavam em laboração na Marinha Grande dez fábricas de vidro, quatro em construção e uma projectada.
Em 1924, foi nomeado administrador da Real Fábrica de Vidros, o Eng. Acácio Calazans Duarte.
Calazans Duarte, é considerado o gestor mais importante que passou pela Real Fábrica de Vidros, o seu trabalho foi fundamental para a recuperação da empresa, praticamente arruinada aquando da sua nomeação.
Para além do seu papel como gestor, a ele se deve a primeira escola industrial da Marinha Grande, assim como a obrigatoriedade da escola para todos os menores que então trabalhavam na fábrica. Foi director da empresa até 1966.
Vinte e um, era o número de fábricas de vidro existentes na Marinha Grande, em 1948.
Em 1954, a Real Fábrica de Vidros da Marinha Grande, passou a chamar-se Fábrica Escola Irmãos Stephens.
Nos finais dos anos cinquenta, a F.E.I.S., (denominação porque começou a ser conhecida), iniciou um grande processo de reestruturação a todos os níveis, sendo de salientar, no que diz respeito à produção, que além do vidro tradicional, começou a ser fabricado outro tipo de vidro, criado por “designers” portugueses.
Entre eles destacam-se as colecções criadas pela arquitecta Carmo Valente e pela escultora Maria Helena Matos.
O museu do vidro já teve recentemente patentes ao público duas exposições, com peças destas duas designers Portuguesas.
Após o 25 de Abril, a F.E.I.S., torna-se empresa pública, (E.P.) mais tarde sociedade anónima, (S.A.), quando duma tentativa do Estado Português em a privatizar, em 1990.
Nessa altura sucederam-se os conflitos sociais internos a nível laboral, assim como as sucessivas mudanças de administração.
A F.E.I.S. foi encerrada por decisão do Conselho de Ministros em 15 de Maio de 1992. Era então Primeiro-ministro, o actual Presidente da Republica, Aníbal Cavaco Silva.
A Marinha Grande, jamais lhe irá perdoar!...
Com o encerramento da Fábrica Escola Irmãos Stephens, a Marinha Grande ficou órfão de pai e mãe. Este sentimento não é só meu, é o sentimento de milhares de Marinhenses, ou dos que não sendo Marinhenses, grupo onde eu próprio me incluo, foram adoptados por esta maravilhosa terra. O vidro corre-me nas veias em paralelo com o sangue!... O dia em que tive conhecimento da decisão de encerrar a F.E.I.S. foi dos piores dias da minha vida.
Para se poder analisar os números da crise que têm atingido o sector vidreiro, no subsector da cristalaria, apresento de seguida alguns dados para reflexão.
Nas décadas de 70 e 80, trabalhavam no sector cerca de 4000 trabalhadores. Só a Ivima, antes da crise de 1985/1986, tinha 1400 empregados.
Entre 1992 e 2006 encerraram 14 empresas de produção de vidro, entre elas a Marividros, empresa onde trabalhei 18 anos. Foram cerca de 2160 postos de trabalho que se perderam, são inúmeros os casos em que esta situação atingiu famílias inteiras.
Depois de uma grande tragédia, há que olhar em frente, ganhar ânimo, continuar a trabalhar e continuar a lutar porque a vida continua.
Actualmente existem em laboração 10 empresas, situadas no concelho da Marinha Grande, Alcobaça e Leiria. O conjunto destas empresas emprega actualmente cerca de 1100 trabalhadores.
Destas 10 empresas, apenas a Crisal da Marinha Grande e a Crisal Atlantis, fizeram parte do grupo das grandes empresas vidreiras anteriores à década de 80.
Gostaria de salientar que 90% da produção destas empresas se destina ao mercado Internacional: União Europeia, Estados Unidos, Brasil e Médio Oriente. A facturação anual oscila entre os 40 e os 50 milhões de euros.
Para já chega de escrita negativa. Vou tentar escrever a partir de agora sobre os aspectos positivos que a indústria vidreira tem tido ultimamente.
Durante as comemorações dos 250 anos da indústria vidreira em Portugal, em
13 de Dezembro de 1998, foi inaugurado o Museu do Vidro, pelo Senhor Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio.
O museu está instalado no antigo palácio da família Stephens, edifício construído na segunda metade do século XVIII, que tem um traçado arquitectónico neo-clássico, sendo composto por três pisos e dois jardins.
No dia da inauguração, o encenador marinhense, Norberto Barroca, levou à cena uma peça de teatro alusiva à época dos Stephens. Em conjunto com o grupo de teatro do Sport Operário Marinhense, esteve a trabalhar ao vivo uma obragem do século XVIII, a convite da responsável do pelouro da cultura da autarquia Marinhense. Essa equipa de trabalho no vidro foi por mim organizada.

Em 1999, é criada a Região Demarcada do Vidro da Marinha Grande.
Para aproveitar comercialmente a criação da região demarcada, é também criada, no mesmo ano, a marca Mglass.
Com os 260 anos de história, a região agora demarcada do vidro da Marinha Grande, torna-se uma das mais antigas da Europa, na tradição vidreira.
A criação da marca Mglass, que no início reuniu 23 empresas de produção e transformação de vidro, apostou na inovação e no design. Vieram até ao vidro, jovens designers portugueses, com ideias novas, que se apoiaram na grande experiência dos vidreiros portugueses. Conseguiu-se criar uma colecção muitíssimo boa. Desde há muitos séculos que o vidro, conjuga, saberes, arte, beleza e cultura. Para mim é como magia trabalhar o vidro.

Três conjuntos de peças da colecção Mglass, produzidas na empresa Marividros, local onde trabalhei 18 anos.
A obragem (equipa produtiva), da qual eu era o responsável, produzia normalmente peças destas colecções.
A colecção 6º sentido é da autoria da designer Rita Melo.
Rita Melo, 31 anos, natural de Lisboa, possui o curso superior de Design Industrial. Ao desenhar para a Mglass, da Marinha Grande, uma colecção de mesa denominada "6º Sentido", viu o seu trabalho incluído na lista "Design 100" da revista americana "Metropolitan Home". Colecção que também foi galardoada com o prémio "Design Plus", na Feira de Frankfurt, Ambiente 2004.

“ O vidreiro recorre à capacidade artística que não é necessariamente limitada por constrangimentos técnicos. A colaboração entre o vidreiro e o designer relaciona o “saber fazer" com o “saber o que fazer".

Fez-se na altura uma grande campanha promocional, nomeadamente em Portugal e nos Estados Unidos.

Alguma maldição deve perseguir o vidro e a Marinha Grande. O que no início parecia a luz ao fim do túnel, tornou-se na realidade num pesadelo. A marca Mglass teve pouco tempo de vida. Muitas dificuldades, muitos gastos desnecessários, apostas de mercado falhadas, nomeadamente o mercado dos Estados Unidos, arrastaram-na para o fim, mas penso que não definitivamente.
No ano de 2000, foi criado o Crisform. As instalações definitivas foram inauguradas durante o 3º salão Internacional do vidro, em 17 de Setembro de 2005.

O CRISFORM é uma entidade de direito pública, sem fins lucrativos, com autonomia administrativa e financeira, cuja principal atribuição é promover actividades de formação profissional para valorização dos recursos humanos do sector da cristalaria.
O âmbito de intervenção do CRISFORM é nacional e a sua sede social será, em instalações próprias, na Zona Industrial da Marinha Grande.


O Crisform, Centro de Formação Profissional para o Sector da Cristalaria, desenvolveu este ano (2007), um projecto para tentar recuperar a marca Mglass.
Os jovens designers portugueses merecem, os vidreiros e a Marinha Grande também.
Este projecto foi executado por mim e pelo meu grande amigo José Rosa. Obrigado ao Crisform e à Sónia.


A Marinha Grande há muito que reclamava uma escola, onde se pudesse ensinar a trabalhar, aquilo que é a sua alma: o vidro.
Com o Crisform abrem-se outras perspectivas, em relação ao vidro. Aqui se podem ensinar a todos os interessados as mais diversas formas e técnicas de trabalhar o vidro.
Costumo afirmar que o Crisform, para mim, foi criado com 30 anos de atraso, digo isto, mais como um lamento. No que me diz respeito, tenho tentado aproveitar o tempo de atraso, aproveitar as oportunidades que me têm sido oferecidas, tanto para a minha valorização profissional, como intelectual.
A minha maior alegria era ver que esta minha postura seria seguida por mais profissionais do vidro, mas este objectivo ainda não está conseguido.
Vai ser um processo lento, mas penso que, aos poucos, os que trabalham o vidro, vão acabar por descobrir o Crisform.
O vidro chegou à Marinha Grande há 260 anos, foram muitos anos de trabalho, de sacrifícios e dificuldades, muitos anos de luta.
A história da Marinha Grande, a passada e a mais recente, é a história do abrir e fechar fábricas de vidro. Tenho 52 anos de idade, vivo e trabalho na Marinha Grande há 41 anos.
Já vi fechar muitas fábricas, já fiquei duas vezes desempregado em consequência desses encerramentos. Mas também já vi abrirem mais de uma dezena de novas unidades industriais para a produção de vidro, será que é a sina desta terra e a minha?!
Hoje, para mim, trabalhar o vidro já é uma questão de teimosia, NO FUNDO É UMA GRANDE PAIXÃO, PORQUE TRABALHAR O VIDRO É UMA ARTE MAIOR.


Para ajudar a dar a volta à crise, resolvi seguir as novas tendências e criar um site e um blog na Internet, para divulgar as minhas peças, atrair novos clientes e tornar o meu trabalho mais visível. Internet permite levar o meu nome e o trabalho que desenvolvo, a qualquer parte do mundo. Esta é uma ferramenta que alarga enormemente as possibilidades comerciais de qualquer empresa. Apesar da Internet ter, como sabemos, vários perigos (basta lembrar a pedofilia e as fraudes) tem também o benefício de tornar o Mundo mais ”pequeno” e ficarmos mais próximos uns dos outros, neste mercado global.
Esta é uma arte da qual não abdico e que desejo projectar para além do espaço restrito do meu local de trabalho, como o pode demonstrar o meu site: www.poeirasglass.com.sapo.pt e ainda o blog: www.poeirasglass.blogspot.com