quinta-feira, 20 de novembro de 2008

A Reciclagem, o Meio Ambiente e a Higiene e Segurança na Indústria Vidreira



Depois de ter apresentado as várias potencialidades do trabalho em vidro, ficaria incompleto o meu trabalho se não abordasse o problema da reciclagem associada ao meio ambiente e ainda os aspectos de segurança e higiene para quem trabalha no sector. Vou começar por falar na reciclagem.
Em Portugal a reciclagem de vidro foi das primeiras a ser implementada, lentamente, ao longo dos anos, um pouco por todo o País.
Pode dizer-se que foi a partir de 1990 que se começou a fazer a recolha de vidro, com intenção de o reutilizar como matéria-prima na indústria vidreira, no sector da embalagem.
Na pesquisa que efectuei, o primeiro valor que consegui encontrar faz referência ao ano de 1990, tendo sido recolhidas cerca de 11000 toneladas de casco, (nome que é dado ao vidro quando reciclado) que, em vez de ser depositado nos aterros sanitários, voltou aos fornos de fusão, substituindo assim as cerca de 12 400 toneladas de matérias – primas necessárias para se ter as onze mil toneladas de vidro.
Exemplo:
1000 Kg de vidro reciclado = 1000 kg de vidro fundido
1240 Kg de matérias-primas = a 1000 kg de vidro fundido
Encontrei dois resultados referentes à utilização de vidro reciclado.
A empresa Saint-Gobain Mondego, situada na Figueira da Foz, na sua produção, utiliza 55% de vidro reciclado.
A Barbosa e Almeida, situada em Avintes, utiliza, na sua produção 80% de vidro reciclado, para obter vidro verde para engarrafamento do vinho do Porto, estando até a importar vidro reciclado de alguns países da Comunidade Europeia.
Existe em Portugal, na zona industrial de Anadia, uma empresa de capitais Espanhóis, que se dedica ao tratamento de vidro reciclado, para posterior utilização.
Para além das matérias-primas que se podem poupar com a reciclagem, é de salientar também a poupança nos gastos energéticos (gás e electricidade), que resulta da utilização do casco.
Exemplo:
O casco para ser fundido necessita de uma temperatura a rondar os 1200 graus, a composição necessita de 1450 graus.
O processo de fusão do vidro tem um impacto negativo no meio ambiente, devido à grande quantidade de CO2 que é libertado na atmosfera, embora as grandes empresas que fazem a fusão de grandes quantidades de vidro estejam apetrechadas com modernos equipamentos, nomeadamente electrofiltros, que ajudam a controlar a emissão dos gases.
O mesmo não acontece nas pequenas unidades industriais, que se dedicam ao fabrico manual do vidro. Não tenho conhecimento de nenhuma que tenha qualquer protecção contra a emissão de CO2 na atmosfera.
Também é bom lembrar que todo o vidro que seja colocado nos aterros sanitários, ou em qualquer outro local, aí ficará ETERNAMENTE, porque segundo os cientistas, o vidro precisa de muitos milhares de anos para se degradar.
O vidro, para além de ser um dos mais belos materiais descoberto pelo homem, tem a particularidade de poder ser 100% reciclado. Em todas as empresas que fazem a fundição de vidro todos os seus desperdícios voltam ao forno, incluídos na composição.

Eu não sou, no que toca a reciclar, exemplo para ninguém. Não é por não saber o mal que causam ao meio ambiente todos os resíduos que não são reutilizados, mas por diversas questões económicas e políticas.
Por exemplo, o grupo Sonae que detém a maior parte do capital das empresas Barbosa e Almeida, situadas na Marinha Grande e Avintes, utiliza 80% de vidro reciclado, tanto nacional, como importado da Europa. Assim sendo, justificar-se-ia que contribuíssem mais para a recolha do vidro reciclável, ainda que os seus objectivos sejam meramente económicos.
Porém, eu, para colocar no vidrão as garrafas de cerveja, com objectivos ambientais, tenho de andar com elas num saco, cerca de três quilómetros. Já quis comprar um pequeno Ecoponto para casa e, no Supermercado Modelo (grupo Sonae), tinha de pagar cerca de 15 €.
Situações destas levam-me a optar pela compra de produtos em garrafas reutilizáveis, o que se torna menos dispendioso e mais vantajoso a nível ambiental.
Na época em que estive na Alemanha a trabalhar, já lá vão 17 anos, tinham um sistema de reciclar todo o tipo de resíduos, que pode bem servir de exemplo para Portugal. Todas as casas tinham vários baldes para separar os resíduos e, semanalmente, era feita a recolha casa a casa, seguindo um mapa previamente distribuído. Reciclar era algo que toda a população daquela pequena vila fazia, com a maior das naturalidades.
Nas questões políticas apenas um pequeno comentário: o maior poluidor do meio ambiente, os Estados Unidos da América, é o país que mais entraves põe àqueles que querem um mundo mais limpo e saudável. Foi assim com o protocolo de Quioto e tudo indica com o de Bali.

A necessidade de observar regras de Higiene e Segurança no Trabalho, numa empresa vidreira, coloca-se do primeiro ao último minuto.
Os trabalhadores que trabalham na secção em que é feita a mistura que posteriormente será introduzida no forno para ser fundida, são os que estão mais sujeitos às doenças provocadas pelos materiais usados na composição do vidro, sendo a silicose a mais grave de todas.
Nas empresas de grandes dimensões já existem instalações automatizadas, que fazem esta mistura, sem o contacto directo dos operários.
Nas empresas de pequenas dimensões, inclusive também aqui nas instalações do Crisform, a composição é feita manualmente, apenas recorrendo a um misturador. Esta situação leva ao contacto directo com a composição, sendo enorme o risco para a saúde por parte de quem a faz. Embora haja algum equipamento de protecção que ajuda a atenuar os riscos decorrentes desta operação, todo o cuidado é pouco.
O amianto, sob a forma de placas ou fio, foi um material muito usado na indústria vidreira durante muitas décadas. Hoje em dia está proibido, no entanto, ainda há empresas que o utilizam.
Nas empresas que trabalham com cristal há um componente muito perigoso para a saúde dos trabalhadores, o chumbo.
Os trabalhadores que fazem peças com vidros opacos, têm de ter muito cuidado com um dos seus componentes, a criolite.
Tendinites são uma doença profissional comum a todos os vidreiros que trabalham manualmente. Neste momento ando a tratar uma na zona do cotovelo e tenho uma num pulso.

Todos os vidreiros que trabalham na zona de fornos de vidro têm vários problemas, comuns àqueles que realizam trabalho manual ou automatizado. Vou enumerar alguns:
ü Ambiente de enorme calor - pessoalmente já utilizei um pequeno aparelho para medir temperaturas, na zona em que se encontrava a minha obragem a trabalhar, marcava 58 graus. Quem tiver dúvidas não precisa de ir a uma empresa. Para tal basta passar pela zona do forno no Crisform, nos meses de Junho/Julho e ficará a saber as temperaturas a que os vidreiros estão expostos.
ü Queimaduras com vidro - este é um dos maiores problemas de quem trabalha com o vidro. Felizmente, ao longo da minha vida profissional, não tenho tido grandes queimaduras. No entanto, as queimaduras minúsculas, são quase diárias.
ü Os cortes são outro dos grandes problemas. Quem está mais sujeito a eles são os que trabalham na zona de acabamentos.

Os problemas de Higiene e Segurança na Indústria Vidreira, e digo isto muito sinceramente, nunca foram uma grande preocupação dos empresários do sector da cristalaria manual. Um pouco por culpa da situação que o sector tem atravessado, os problemas têm permanecido ao longo dos anos.

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