quinta-feira, 20 de novembro de 2008

As Lutas dos Operários Vidreiros

Para fazer este trabalho sobre as lutas dos operários vidreiros, baseei-me no essencial, em dois suportes.
- O primeiro, para fazer o trabalho sobre o 18 de Janeiro de 1934, recolhi informação no livro: “ Os antecedentes sociais do 18 de Janeiro de 1934, na Marinha Grande”, do escritor Hermínio Nunes.
- O segundo, a minha própria experiência. Tenho 52 anos de idade, mas já tenho 42 anos como operário vidreiro. De 1966, até aos dias de hoje, muitas foram as lutas em que participei, quer no período anterior ao 25 de Abril, quer posteriormente.
Este trabalho poderá não ser consensual, mas para tentar entendê-lo é necessário ter em consideração que ele foi escrito por um homem que desde menino foi operário, e que, ao longo da sua vida, sempre foi ou tentou ser um bom profissional, mas sem nunca abdicar dos seus direitos, tendo lutado sempre pelos mesmos. Porém, nunca esqueceu também os seus deveres, enquanto trabalhador por conta de outrem.
Para isso, muito contribuiu alguma formação a nível político e ideológico que fui adquirindo no período em que militei no Partido Comunista Português, tendo sido dirigente Nacional das Juventudes Comunistas. Também nesse período fui vários anos delegado sindical, do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Vidreira e membro da Comissão de Trabalhadores da Empresa Ivima.
Para mim, a luta de classes nunca foi uma questão secundária, ela tem estado sempre presente enquanto operário e pelo que consigo analisar ela vai continuar até ao fim da minha vida.

A data de 18 de Janeiro de 1934 ficará para sempre ligada à história dos vidreiros, em Portugal. Nesse longínquo dia, um punhado de homens, na maioria operários vidreiros, de armas na mão, lutaram contra um regime que viria a amordaçar o Povo Português durante 48 longos anos.
Para tentar perceber minimamente o que levou esses homens a seguir esse caminho, é preciso ver os antecedentes sociais, económicos e políticos que se viviam em Portugal e, em particular, na Marinha Grande, naquela época.
Com o derrube da Monarquia, em 5 de Outubro de 1910, instalou-se em Portugal uma República, que demorou muito a consolidar-se o que levou ao golpe de Estado de 1926.
Em 1930, uma profunda crise social atingiu a Marinha Grande.
“Década, após década, a história repete-se nesta terra, será sina”!...
Este foi também o ano em que a ditadura, saída do golpe de Estado de 1926, começou a estabilizar e a impor a sua lei.
Os anos 30 e 31 foram particularmente difíceis para quem trabalhava na indústria vidreira. Com o apagar dos fornos, o trabalho escasseava, em consequência a fome atormentava os vidreiros e as suas famílias. A solução, na altura, foi trabalhar no pinhal. José Gregório, destacado dirigente do Partido Comunista relatou, deste modo, em 1931, a situação vivida:
- Em virtude da crise que a indústria vidreira atravessa, uma grande parte dos operários vidreiros desempregados, conseguiu através dos seus protestos que o governo concedesse uma verba para realizar trabalhos no Pinhal do Rei, nomeadamente a abertura de caminhos.
Em 1931, com apenas 25 anos, Armando Correia de Magalhães, filho de uma família com tradições na lapidação do vidro e oriundos da fábrica da Vista Alegre, conseguiu unir as várias associações de classe que existiam na altura, num só sindicato vertical. Na época, era já um destacado membro do Partido Comunista.
Desta situação pode concluir-se que a criação do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Indústria do Vidro teve a orientação política do Partido Comunista.
Na época, e depois da reorganização do Partido feita por Bento Gonçalves, (Secretário Geral do Partido, até à sua prisão e morte no Tarrafal), há um rápido desenvolvimento do partido com a criação de inúmeras células e comités operários, um pouco à imagem dos comités Bolcheviques.
Entre 9 de Março e 24 de Novembro de 1932 teve lugar a maior e mais longa greve dos operários vidreiros, a greve dos Roldões, como ficou conhecida. Foi um marco histórico do operariado vidreiro. Muitas outras se lhe seguiriam.
A tuberculose foi durante décadas uma doença que afectou largas centenas de vidreiros e suas famílias, até meados do século XX. Ao colocar esta questão pretendo salientar o trabalho desenvolvido, neste campo, pelo Dr. Aníbal Couceiro Neto Guedes Coelho, no combate a este flagelo, ele que foi o responsável pela criação do Sanatório instalado na Marinha Grande.
Nos finais de 1932, princípio de 1933, o sindicato vidreiro fundou a 1ª Caixa Sindical de Previdência, com o intuito de ajudar e apoiar os operários vidreiros e as suas famílias, nas grandes dificuldades sociais e económicas. Foi fundada também uma escola para os aprendizes vidreiros.
Neste ano foi regulamentada a idade em que as crianças poderiam começar a trabalhar na indústria vidreira, na fábrica Marquês de Pombal, (Crisal) era de 7 anos já feitos.
Em 1966 era de 12 anos, mas, no meu caso assim como no de dezenas de outras crianças e também por necessidade, tenho de o dizer, eram admitidas com menos anos, desde que tivessem completado a 4ª classe.
O ano de 1933 trouxe a Portugal uma nova conjuntura política: O Estado Novo.
Em 23 de Setembro de 1933, foi o fim dos sindicatos livres e democráticos. Salazar, tendo como base a “Carta del Lavoro” de Benito Mussolini, publicou o decreto 23.048, instituindo o Estatuto do Trabalho Nacional, obrigando os sindicatos democráticos a ser encerrados.
Todos os trabalhadores ficavam obrigados a filiar-se nos sindicatos corporativos.
A direcção do sindicato vidreiro, avisada a tempo, fugiu para Espanha, no início de Novembro, para não ser presa.
No final de Novembro de 1933, a organização de jovens aprendizes da fábrica do Marquês, em resultado de uma greve organizada pela Juventude Comunista, foi presa e encerrada nas masmorras do Governo Civil de Leiria.
O Movimento Insurreccional de 18 de Janeiro de 1934, começou por ser uma tentativa Nacional de luta contra o Estado Novo. Por motivos diversos, e aqui não há consenso entre os historiadores, políticos e todos aqueles que de qualquer forma estudam esta questão, o que se sabe é que houve algumas lutas a nível Nacional, sem grande significado.

Na Marinha Grande, esta luta tomou proporções de Insurreição Armada, isto deveu-se a alguns factores fundamentais. A classe operária vidreira estava bem organizada, tinha sido bem “temperada” ao longo dos anos, nas diversas lutas sociais e económicas.
A fome, a miséria e a falta de liberdade, são as condições fundamentais para o início de qualquer revolução, em qualquer parte do Mundo.
Embora nem todos os participantes no movimento do 18 de Janeiro fossem militantes do Partido Comunista Português, é verdade que o movimento foi organizado e dirigido pelo Partido. Por muitos documentos da época este facto é indesmentível. Para a História ficou o fracasso da revolta, mas durante algumas horas, na Marinha Grande, o poder esteve nas mãos dos operários vidreiros.
As forças repressivas conseguiram dominar a insurreição, foram feitas dezenas de prisões, a maioria dos presos foram deportados para o campo de concentração do Tarrafal.
Nas comemorações do 18 de Janeiro de 1934, feitas este ano de 2008, o Município da Marinha Grande, fez a germinação com o Município do Tarrafal, Cabo Verde, como homenagem aos dois marinhenses que foram assassinados no campo de concentração.
Nas referidas comemorações tive também o prazer de reviver o percurso histórico feito pelos revolucionários naquela noite distante, iniciativa levada a efeito pelo Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Vidreira, com o acompanhamento do historiador Hermínio Nunes, autor do livro “Antecedentes Sociais do 18 de Janeiro de 1934 na Marinha Grande”, que também serviu de documento de apoio para a elaboração deste trabalho.

Dos 152 antifascistas que foram inaugurar o Campo de Morte Lenta, assim ficou conhecido, 57 eram membros do movimento do 18 de Janeiro.
António Guerra e Augusto Costa foram dois, dos trinta e dois antifascistas assassinados no Tarrafal. Para além destes dois, foram também assassinados Manuel Carvalho, que faleceu no Hospital de Leiria e Francisco Cruz que faleceu na prisão de Angra do Heroísmo.

A sua coragem, determinação e generosidade permaneceram na memória colectiva desta terra.
Este legado conquistou para a causa da liberdade e da democracia imensas gerações de jovens marinhenses, onde com imenso orgulho me incluo, sendo eu um filho adoptivo desta terra.
Ao longo dos anos e após o 25 de Abril, tive o prazer de conviver no dia a dia com alguns dos homens que tiveram, no movimento revolucionário do 18 de Janeiro, um papel de grande relevo. Gostaria de destacar, no geral, a sua grande humildade, os seus ensinamentos, a sua grande história de vida.
Daqueles com quem de mais de perto convivi, quero destacar o Adriano Nobre, o Jubileu, o Manuel Báridó e o João Bacharel, este último que viria a falecer em 5 de Janeiro de 2007.
No primeiro 18 de Janeiro, comemorado em liberdade, foram transladados da Checoslováquia, para a Marinha Grande, os restos mortais de José Gregório, um dos principais dirigentes e organizador do movimento. Nas cerimónias fúnebres e durante o trajecto entre o Centro de Trabalho do P.C.P. e o cemitério, fui um dos quatro jovens destacados para transportar a urna.

Estava quase no fim, o ano de 1966, precisamente em 14 de Outubro, quando comecei a trabalhar na empresa Crisal, “Marquês” como era conhecida.
Para mim, um garoto com apenas 10 anos de idade, (fiz 11 anos em 29 de Novembro), tudo era novidade. Nunca tinha estado ou visitado uma fábrica de vidro. Como sou oriundo do Ribatejo, as minhas raízes familiares estavam ligadas à agricultura.
Penso que tive uma adaptação rápida ao ambiente fabril. Para isso muito contribuiu a grande quantidade de “garotos” que, na altura, trabalhavam na empresa.
Comecei por “levar a cima” (esta tarefa consiste em transportar, num forcado, as peças em vidro acabadas de executar para a arca de recozimento). No segundo dia fui “ fechar o molde”, (esta tarefa consiste em molhar, abrir e fechar a forma, onde os moldadores sopram o vidro, para dar forma às peças pretendidas).
Ainda hoje estas duas funções fazem parte do quotidiano das fábricas de vidro, embora haja máquinas que desempenham esta tarefa, recorre-se com frequência a alguém que feche o molde.
Os primeiros anos de trabalho foram de alguma monotonia, embora fosse evoluindo com alguma rapidez na aquisição de conhecimentos, na arte de trabalhar o vidro.
Aos treze anos, era “caldeador”, (consiste em dar aquecimento às peças em fase de produção). Aos catorze, era “colhedor de marizas” (consiste em colher pequenas quantidades de vidro, para asas de canecas e jarros, pés para cálices, etc.).
A minha mãe e os meus avós maternos (os meus pais estavam separados desde os meus sete anos), sempre procuraram dar-me uma educação com valores, no sentido de me tornar uma pessoa responsável. Sempre me lembro de ter um espírito tipo “puto reguila”, ainda tenho um pouco desse espírito. Esta maneira de ser, trouxe-me alguns dissabores mas muitas alegrias e responsabilidades.
No início de 1970, “meti-me” na minha primeira grande confusão na empresa. Influenciados pelos vidreiros mais velhos, os aprendizes da fábrica Crisal iniciaram uma greve para reivindicar um aumento salarial.
Fui eu que nesse dia toquei o sino como sinal para começar a luta, ainda hoje tenho a noção que o fiz conscientemente.
Nesse mesmo dia os aprendizes da Ivima, no turno da manhã, tinham feito o mesmo. Em consequência disso foram despedidos, cerca de trinta.
Foi a minha primeira grande “prova de fogo”. À partida tínhamos o apoio e solidariedade dos vidreiros mais velhos, tínhamos a sua palavra de que não trabalhariam sem os aprendizes todos, não aceitariam despedimentos.
Sempre houve uma grande diferença, na disposição para lutar, entre os trabalhadores vidreiros da Crisal e da Ivima. Nunca encontrei explicação para este factor, ao longo dos anos.
Fomos recebidos pelo Administrador da Crisal, na altura era o senhor João Rosa Azambuja. Lembro-me de ele ter perguntado qual era o motivo da nossa paragem e de eu lhe ter respondido que ganhávamos pouco e queríamos ser aumentados, senão não pegaríamos ao trabalho.
Depois de ter chamado o responsável do escritório e com ele ter conversado algum tempo, disse-nos: “Vão trabalhar. Sexta-feira vão receber mais 7$50 por dia, (naquela época recebíamos à semana).”
Esta greve ficou conhecida pela greve dos “sete e quinhentos”.
A partir desse dia, ganhei o respeito dos meus colegas, tanto dos mais velhos como dos mais novos, tenho confirmado isso ao longo da minha vida.
Esta foi a primeira luta reivindicativa em que me envolvi e estive na linha da frente. Muitas outras se seguiriam ao longo dos anos.
A partir de 1973 e com o meu envolvimento no M.J.T., (Movimento da Juventude Trabalhadora), na campanha da CDE, nas últimas eleições (farsa) levadas a efeito pelo regime de Caetano, comecei a ganhar uma maior maturidade e a adquirir conhecimentos a nível social e político.
O Regime dava sinais claros de não conseguir travar as lutas dos trabalhadores. Cinquenta sindicatos onde os trabalhadores já tinham conseguido eleger direcções de sua confiança, tinham fundado, em 1 de Outubro de 1970, a Intersindical.
Em 13 de Março de 1974, todas as empresas vidreiras da Marinha Grande iniciaram aquela que foi a maior e a última greve feita pelos vidreiros, no tempo da ditadura fascista.
Embora a Marinha Grande, nos três dias em que durou a greve, estivesse ocupada pelas forças repressivas, (polícia política e de intervenção), instaladas no antigo matadouro, junto à Fábrica Escola, o levantamento militar das Caldas da Rainha, em 16 de Março, ajudou imenso à nossa vitória e à conquista de 60$00 diários por pessoa, (só para se ter uma noção desta vitória, eu, antes da greve, ganhava 57$50 diários, passei a ganhar mais do dobro), ou seja 117$50.
Tenho imensa pena de não ter documentos que comprovem esta situação. Esta greve foi decidida em plenário geral de trabalhadores vidreiros, realizado na sede do Sport Império Marinhense, na noite anterior. Na Crisal, em conjunto com os outros jovens, fui eu que iniciei a luta.
Desta greve até à madrugada libertadora do 25 de Abril, foi um salto muito rápido.
No período após o 25 de Abril e nos anos que se seguiram, os trabalhadores portugueses em geral e os que trabalham no sector da cristalaria em particular, tiveram um papel fundamental nas lutas para garantir que o 25 de Abril não andasse para trás. Na organização e direcção destas lutas esteve sempre envolvido o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Vidreira.
Em Outubro de 1974, com o início da produção automatizada na Crisal, todos os trabalhadores do sistema manual foram transferidos para a Ivima, para um forno de grandes proporções, que ficou conhecido pelo “forno sete”.
Passaram a trabalhar na Ivima perto de 1400 trabalhadores. Para mim foi o princípio do fim da empresa.
Em 1975, penso que devido à minha forma de ser e de estar, e pelo prestígio que ao longo dos tempos tinha granjeado junto dos meus camaradas de trabalho, fui eleito pela primeira vez, com vinte anos de idade, delegado sindical, tendo sido reeleito diversas vezes, até sair da Ivima, por altura da crise de 1986, (estive, tal como os outros trabalhadores nove meses com salários em atraso).
A juntar a esta responsabilidade, fui eleito também para a Comissão de Trabalhadores, por diversas vezes. Num dos mandatos, e por ser o número um da lista vencedora, fui o Coordenador da Comissão de Trabalhadores e Coordenador Distrital das Comissões de Trabalhadores de Leiria.
Pela minha experiência, cheguei à conclusão que, ao longo dos anos, os trabalhadores para conseguirem aumentos salariais e outras regalias sociais, sempre tiveram de lutar por elas. Neste aspecto, a forma de luta de eleição é, sem qualquer dúvida, a GREVE. Nunca consegui, até hoje, qualquer aumento salarial sem ter de recorrer a ela.
Muitas vezes os trabalhadores são acusados de recorrer à greve, mas penso que os principais responsáveis por esta situação são os empresários. Normalmente não aceitam soluções de compromisso nem diálogo. Aos trabalhadores não resta outra solução que não seja a luta.
Na crise que a Ivima atravessou em 1986, os trabalhadores utilizaram as mais diversas formas de luta para tentarem evitar o encerramento da mesma, desde as marchas a pé a Lisboa, aos cortes das vias de comunicação, (tanto a via férrea da linha do oeste, como a Estrada Nacional 242), entrar dentro da Assembleia da República e incomodar os Senhores Deputados com a distribuição de um documento em que se denunciava a situação que se vivia na empresa. Quando desta última forma de luta, o senhor Presidente da Assembleia da República mandou encerrar a mesma, tendo recebido ordem de prisão, 16 trabalhadores que foram enviados para a polícia judiciária e libertados ao fim de algumas horas.
A mais grave e complicada situação vivida na altura, foi quando o administrador da empresa, o Sr. Jorge Raposo de Magalhães, se auto encerrou na mesma, para posteriormente chamar a polícia de intervenção, com o argumento de o libertar. Foi o momento mais crítico da crise da Ivima, com um forte corpo de polícia e milhares de trabalhadores na rua. Felizmente, nesse dia, não chegou a haver confrontos.
Em resultado dessa crise, a Ivima, que tinha na altura 1382 trabalhadores, ficou com cerca de 350. Manteve-se em laboração mais alguns anos até ao seu encerramento.
Em 1992, quando do encerramento da F.E.I.S., embora houvesse algumas paralisações e protestos e, porque os trabalhadores foram indemnizados, de acordo com a lei, não se verificou grande agitação social, como por exemplo quando da empresa Manuel Pereira Roldão.
Em 1994, na crise da M.P.R., a Marinha Grande assistiu àquela que foi, sem dúvida, a mais grave das situações vividas quando do seu encerramento.
Foram muitos dias de luta, muitos confrontos com a polícia de choque. Em consequência da última intervenção da polícia de choque gerou-se uma enorme onda de solidariedade que abrangeu, não será exagero dizer, toda a população da Marinha Grande, com os comerciantes a fecharem as portas dos seus estabelecimentos; os trabalhadores a paralisarem o trabalho e a virem para a rua protestar.
Nessa carga policial ninguém foi poupado: invasão do Quartel dos Bombeiros Voluntários em perseguição dos populares que lá se refugiaram, bem como a igreja da Marinha Grande, até o Sr. Padre foi agredido.
Alguns dias antes já tinha havido uma carga policial, na altura com invasão da Câmara Municipal.
O canal de televisão SIC fez um documentário sobre esta luta e há algum tempo atrás, no programa Perdidos e Achados voltou a passá-lo em horário nobre, para que a memória se mantenha. O meu muito obrigado aos responsáveis pelo documentário.
Em resultado desta luta, o governo decidiu apoiar o sector da Cristalaria. Dentro deste projecto foi criada a empresa “Mandata”, para onde foram transferidos a maioria dos trabalhadores da Manual Pereira Roldão. A Mandata apenas laborou três anos.
No dia 29 de Maio de 2006, tive mais um revês na minha vida profissional, com o encerramento da empresa Marividros, onde trabalhei dezoito anos. Embora fosse uma morte anunciada há algum tempo, é sempre difícil para alguém que, como eu, se dedica com enorme paixão à profissão que adora.
Neste encerramento não houve luta. Hoje em dia as condições são muito diferentes das existentes há alguns anos.

Ao acabar este trabalho, não sei se consegui transmitir toda a minha experiência e todas as minhas vivências. No entanto, continuo a acreditar que a luta de classes terá de ser vista como o motor de desenvolvimento da sociedade. Não acredito que a sociedade Capitalista seja o objectivo final, haverá sempre quem queira uma sociedade mais justa e fraterna, com menos desigualdades sociais, onde os senhores da guerra não tenham o poder de decidir o futuro da Humanidade, onde o homem não seja o explorador de outro homem.
Nada custa sonhar, como diz o poeta António Gedeão: “Enquanto o homem sonha, o mundo pula e avança, como bola colorida entre as mãos de uma criança”.
Não sei o que o futuro me reserva, apenas sei que tenho quarenta e dois anos de profissão, sou, sem qualquer espécie de vaidade, um óptimo vidreiro, com bastantes conhecimentos a nível do trabalho do vidro manual e, neste momento, encontro-me a trabalhar, com um contrato a prazo de seis meses renováveis.
Esta situação deve-se à crise que a indústria vidreira tem vivido nos últimos anos e à falta de cultura empresarial por parte dos actuais empresários do vidro na Marinha Grande.

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